No outro dia encontrei o meu primeiro amor. Aquele a quem dei o primeiro beijo. Aquele que não esqueço (bem, dependendo o ponto de vista).
A última vez que o vi tínhamos ambos cinco anos e estavamos contentes porque iamos dançar juntos no último dia de aulas. Fim da pré-escola e passados poucos meses ia ser o grande dia, o primeiro dia de aulas a sério.
Bem, eu estava a passear com um amigo quando vejo um rapaz todo janota a aproximar-se. Acreditem que me assustei e fiquei com medo. Quando ele me coloca a mão no ombro começou o diálogo:
- Olá! És a Guida, não és?
- Olá! Sim. Devia conhecer-te?
- É normal que não te lembres de mim porque eu também não me lembrava de ti. - Eu pensei: e então porque é que estás aqui a falar comigo? Mas ele explicou. - A minha mãe é que te conheceu e disse-me que eras tu.
- Continuo sem saber quem és. Desculpa.
Nisto, o meu amigo estava a olhar para nós com cara de caso.
- Sou um amigo teu, ou devia dizer ex-namorado. Andamos juntos no infantário.
Aí é que me lembrei que era ele. Tem os mesmos traços e reconheci-o quando me falou no infantário. Tudo me passou pela cabeça naquele momento. Apeteceu-me chorar, rir, gritar, apeteceu-me abraça-lo. Que saudades que eu tinha dele. Ainda há pouco tempo vi a cassete com a minha mãe e comentei com ela o facto de não ter contacto com quem quer que seja daquela escola. Tinha a melhor amiga, a Mariana, já não me lembro de a ver mas gostava de ser amiga dela. Mas pronto, voltando ao assunto, não sabia o que fazer. Fiquei com cara mesmo admirada e os olhos a brilhar. Ainda me lembrava da última vez em que éramos mesmo pequeninos e agora estavamos nós, frente a frente. Ele está grande e bonito, a mãe dele parece que os anos não passaram por ela, está igual. Como é que é possivel ter passado tanto tempo? Parece que foi ontem. Tinha mesmo vontade de ficar ali o dia inteiro a contar tudo, a saber tudo, a olhar para aqueles lindos e grandes olhos castanhos de que ainda me lembrava desde pequena. Ficamos cerca de trinta minutos a falar, até que tivemos que seguir cada um o seu caminho. Trocamos numeros para que depois pudessemos marcar alguma coisa. Durante todas as conversas descobri coisas dos meus outros amigos que não sabia, descobri que ele se lembrava de tudo, até do beijo, descobri que temos personalidades parecidas. Descobrimos que o tempo passa e muita coisa muda. Mas os grandes amigos voltaram a encontrar-se. Agora não é "até daqui a doze anos", agora, é "até amanhã". O sorriso dele é igual ao de doze anos atrás. Comprovei-o ao ver novamente a cassete.